segunda-feira, 16 de maio de 2011

Uma noite na floresta

Meu pai, um contador de histórias nato, falou-me certa vez de um amigo seu que gostava de caçar. Mas num dia de caça ruim, não havia conseguido nem uma rolinha, perdeu a hora no meio do mato. A noite já ia alta e nada dele conseguir achar o caminho de volta para casa, resolveu subir numa arvore alta para se proteger de algum perigo ou animal mais sortudo na caça do que ele.
Procurou uma árvore encorpada e de galhos fortes e se enpoleirou lá em cima. Se ajeitou o melhor que pode e tentou dormir. Já pelas tantas, lá de cima ele ouviu que alguém vinha assobiando, cantarolava com assovios. Era um caboclo atarraxado e  baixinho. O caboclo vinha com um machado apoiado no ombro, de quando em quando ele olhava para cima das árvores como se estivesse procurando alguma coisa. E o homem lá em cima observando a cena pitoresca.

Quando o caboclo passou bem embaixo que o homem estava refugiado, olhou para cima e viu o amigo de meu pai. Foi nessa hora que ele viu algo de diferente no olhar daquele homenzinho do mato. Era o olhar da maldade.

O caboclo começou a meter o machado no tronco da arvore, Zé ficou desesperado. Calculou a altura, viu que numa queda daquele tamanho morreria com certeza. E o caboclo mentendo machado. Zé suava, clamava pelos maiores poderes que conhecia e o machado cantava. A arvore começo a tremer, folhas começaram a cair por causa da trepidação. Zé fechou os olhos, agarrou-se com força e esperou o fim. Sentiu quando a árvore tombava e o choque com o chão.

Quando tudo terminou sentiu-se vivo, respirava. Apalpou-se para ver se estava tudo inteiro. Abriu os olhos e estava no mesmo lugar, no galho mais alto daquela árvore. O caboclo sumira. Olhou lá de cima do tronco da árvore,  estava intacto. Ainda teve sangue frio pra esperar o restinho da noite ir embora. Não teve mais medo de bicho nenhum. Agora sabia que havia mais coisas aterrorizantes no meio do mato. Foi pra casa mais que depressa.

Não teve  

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O cabeção

Esta história foi-me contada por minha irmã, chegou até ela através da pessoa que vivenciou. Por motivos de segurança e por temer o descrédito modificarei os nomes dos envolvidos.


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Andrea ficava costurando até tarde. Como o marido dela não chegava, pois estava muito atrasado, resolveu colocar as costuras pendentes em dia. Antes, porém, adiantou a janta, preparou tudo e deixou a panelas tampadinhas em cima do fogão voltando para a máquina.

Para sua surpresa, acabou a energia. Ela pegou algumas velas e colocou em lugares estratégicos da casa para iluminá-la. A porta trancada a deixava mais segura. Foi quando seu esposo chamou na porta. Ela destrancou reclamando pela demora, que ela estava preocupada, mas ao abrir a porta não havia ninguém.  Andrea pensou que foi uma peça pregada pela sua própria mente. Era mulher forte e não era uma tolice dessas que a faria perder as estribeiras.

Não dava mais pra costurar no escuro. Sentou-se no batente da porta com a velinha na mão. A rua em que morava, no bairro do Alto do Cruzeiro, era uma ladeira íngreme. Lá de cima podia ver quem vinha lá em baixo.  Já passava das onze horas.

Beirando a meia-noite, ela viu um homem subindo a ladeira. Pensou: -- Deve ser o João chegando, graças à Deus!. O homem subia lentamente, ela forçava a vista para identificar seu marido, os anos de costura já não a permitia enxergar como antes.

O homem foi se aproximando e ela percebeu que não era seu esposo. Passou por ela de cabeça baixa e deu boa noite. A cabeça. Foi nesse momento que ela percebeu apavorada, mas sem qualquer reação, que à medida que o homem subia a ladeira, a cabeça do homem crescia; andava e crescia, subia e crescia. Cresceu tanto que o corpo não agüentou o peso, ele pendeu. A cabeça já englobava todo o corpo. Quando ele ou a cabeça dele rolou de ladeira abaixo ela desmaiou.

O marido a encontrou deitada no batente da porta desmaiada, lívida. Nunca mais ela viu o cabeção.




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