sexta-feira, 13 de maio de 2011

O cabeção

Esta história foi-me contada por minha irmã, chegou até ela através da pessoa que vivenciou. Por motivos de segurança e por temer o descrédito modificarei os nomes dos envolvidos.


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Andrea ficava costurando até tarde. Como o marido dela não chegava, pois estava muito atrasado, resolveu colocar as costuras pendentes em dia. Antes, porém, adiantou a janta, preparou tudo e deixou a panelas tampadinhas em cima do fogão voltando para a máquina.

Para sua surpresa, acabou a energia. Ela pegou algumas velas e colocou em lugares estratégicos da casa para iluminá-la. A porta trancada a deixava mais segura. Foi quando seu esposo chamou na porta. Ela destrancou reclamando pela demora, que ela estava preocupada, mas ao abrir a porta não havia ninguém.  Andrea pensou que foi uma peça pregada pela sua própria mente. Era mulher forte e não era uma tolice dessas que a faria perder as estribeiras.

Não dava mais pra costurar no escuro. Sentou-se no batente da porta com a velinha na mão. A rua em que morava, no bairro do Alto do Cruzeiro, era uma ladeira íngreme. Lá de cima podia ver quem vinha lá em baixo.  Já passava das onze horas.

Beirando a meia-noite, ela viu um homem subindo a ladeira. Pensou: -- Deve ser o João chegando, graças à Deus!. O homem subia lentamente, ela forçava a vista para identificar seu marido, os anos de costura já não a permitia enxergar como antes.

O homem foi se aproximando e ela percebeu que não era seu esposo. Passou por ela de cabeça baixa e deu boa noite. A cabeça. Foi nesse momento que ela percebeu apavorada, mas sem qualquer reação, que à medida que o homem subia a ladeira, a cabeça do homem crescia; andava e crescia, subia e crescia. Cresceu tanto que o corpo não agüentou o peso, ele pendeu. A cabeça já englobava todo o corpo. Quando ele ou a cabeça dele rolou de ladeira abaixo ela desmaiou.

O marido a encontrou deitada no batente da porta desmaiada, lívida. Nunca mais ela viu o cabeção.




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